quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O amor e o trabalho

Ah, o amor. Esse sentimento sublime, que deixa a gente besta, que faz o mundo passar em câmera lenta, que instala uma bomba-relógio dentro da gente que, cedo ou tarde, vai explodir e nos deixar na merda. Ah, o amor.

É óbvio, é claro, é evidente que a vida corporativa não é invulnerável aos encantos macabros desse sentimento cor de rosa. Todo mundo está sujeito a se apaixonar em qualquer lugar, então é natural que essa probabilidade aumente onde você passa a maior parte do seu dia.

"Onde se ganha o pão, não se come a carne", já diz o ditado da frigidez corporativa. Tem pessoas que, por precaução (e uma boa dose de razão), preferem manter distância de enlaces amorosos, sérios ou casuais, com colegas de empresa. Tem empresas que, por precaução (e nenhuma razão aqui), proíbem (ou ao menos controlam) relacionamentos entre membros do quadro de funcionários.

Essa última situação é o mais próximo que podemos ter na modernidade dos tais romances proibidos, visto que o trabalho ocupou o lugar na vida das pessoas de instituições falidas - mas outrora poderosas - como a família e a religião. Conheço pessoas que mantem um namoro mesmo trabalhando num lugar que restringe esse tipo de coisa, o que, por falta de atrativo literário melhor, é um bom combustível pra paixão.

Tem também o lance do(a) namorado(a) corporativo(a), que é um simulacro dentro dos limites da moralidade profissional de um relacionamento amoroso: rola um afeto, um flerte, uma preocupação mútua das nove às seis, mas não rola linguinha nem pintinho na perereca. Resumindo, é deprimente.

O maior problema de interesses amorosos/sexuais no trabalho é que isso traz um elemento passional dispensável pra um lugar que pede que sejamos frios e racionais o tempo todo. Depois que as coisas acontecem e, consequentemente, explodem, fica um climão chato - isso quando não interfere no próprio relacionamento profissional das partes envolvidas, o que resulta em salários atrasados "por descuido", em relatórios que não chegam na mão de quem deve, em gente que faz trabalhos idiotas surreais por ser alvo de vingança. Isso sem contar quando há pressão hierárquica pra que pessoas façam coisas ("coisas") em troca de manutenção no emprego.

Não há dúvidas de que o amor no trabalho é um terreno acidentado e traiçoeiro, mas não deixa de ser necessário, visto que é uma das poucas coisas "relevantes" da vida que pode acontecer dentro de um escritório. Mas é tão regrado, tão limitado e tão cheio de peculiaridades que acaba parecendo mais uma versão industrializada da coisa do que ela própria. Corações em três vias, sabe?

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