quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A culpa é minha, eu ponho em quem eu quiser

Apesar do crescente número de pessoas que trabalham remotamente ou por conta, não dá pra negar que o trabalho é algo primordialmente coletivo. Quase tudo depende de uma looonga cadeia de pessoas, procedimentos, cafés e formulários em três vias. E, já que somos humanos, é natural que em alguma hora no meio desse percurso aconteça alguma cagada. Oh, e agora?

Agora é a hora do tiroteio, mermão. Pode haver centenas de pessoas aglomeradas num pequeno espaço, mas é só alguém gritar que houve um erro e procurar o responsável que magicamente vai se abrir um corredor no meio, com todo mundo rapidamente tirando seus respectivos da reta (há quem diga que Moisés atravessou o Mar Vermelho justamente fazendo com que cada gota d'água não quisesse admitir a própria culpa pelo que quer que seja - nunca saberemos). Se você é um experimentado frequentador do planeta corporativo deve saber que um dos itens básicos de sobrevivência nessa Pandora de terno e gravata é justamente saber se esquivar da culpa. "Ah, eu deletei tudo, depois criei de novo de um jeito que eu achei bonito e legal e mandei pro cliente sem a aprovação de ninguém, mas porque eu fui corrigir um erro de digitação do estagiário e deu pau em tudo. Não é minha culpa".

O estagiário, separemos um parágrafo pra ele, é um personagem importante dessa história. Há uma lei não escrita, você deve saber, que diz que o primeiro suspeito de cagada é sempre esse pobre estudante cheio de espinhas. Repara: a cada vez que algum erro abominável vem ao conhecimento popular (tem um exemplo recente), brotam comentários maldosos do tipo "ih, um estagiário vai perder o emprego". É porque o estagiário é burro ou incompetente? Não, é porque quem pode mais, chora menos.

O mercado de trabalho é bastante competitivo, e mesmo que você chame todos os seus colegas de amigos (erro hipócrita básico), nunca vai querer admitir que é menos capaz que eles. Há quem diga que é bonito assumir a culpa, que é coisa de gente com caráter e tal, mas isso é bobagem: aceitar que você errou não te faz melhor, só faz com que os outros (os seus "amigos") parem de te acusar pelas costas. Nada contra, é até legal arrancar essa raspa de diversão maquiavélica alheia, mas certamente não vai te ajudar na carreira.

Para continuar ascendendo, a melhor opção ainda é fingir que não é com você e espantar a culpa pra qualquer lado o mais rápido possível. Ou vocês acham que o nome do Coelho Ricochete não tem nada a ver com o fato de ele ter chegado a xerife? Por favor.

Um comentário:

JP Rodrigues disse...

Caguei mas não fui eu!