quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Augusta, Angélica e Consolação

Desnecessário dizer, mas os componentes mais interessantes da vida corporativa são mesmo as pessoas e as dinâmicas que se estabelecem entre elas. Hoje vamos falar sobre formas de tratamento.

Não tratamento no sentido de tratar bem ou tratar mal (fica pra outro post, esse promete), mas no modo como as pessoas se chamam. Há desde o modo mais formal possível - começar chamando o outro sempre de "senhor", em claro sinal de respeito pela pessoa e desrespeito pela evolução dos tempos - até o mais miguxo de todos - a abreviação. Em algum lugar no meio desse caminho tem outro campeão de vendas, o sobrenome.

Vamos começar por ele: pessoas com nomes comuns ou sobrenomes esquisitos (ou os dois, como é meu caso) costumam ser chamadas pelo sobrenome. Isso é algo comum na escola, por exemplo, que nada mais é que uma versão mais amaciada do mercado de trabalho - comparando, imaginem Tom & Jerry como o trabalho e Tom & Jerry Kids como a escola. Que bosta de comparação -, mas é justamente quando o livro de chamada é trocado pelo livro de ponto que o critério começa a espanar: qualquer um pode ser chamado pelo sobrenome. "Seu nome é Aubiérgio Oliveira, ahn? Vamos chamá-lo de Oliveira".

Tem também a abreviação, ou diminutivo, ou apenas encurtamento do nome. É aqui que aparecem Carol, Pathy, Vivi, Dani, Van, Má, Lu, Dó, Ré, Mi. Nada de errado até aqui (alguns desses até acabam virando o nome oficial da pessoa, veja a dificuldade em encontrar alguém sendo tratada por "Daniela"), o encacetamento é quando usam esse recurso "carinhoso" como aproximação. Essa é uma tática muito usada por algumas pessoas no início do seu relacionamento profissional numa empresa ou com um cliente (procure o filho da mãe nesse post), chegando de mansinho e se fingindo de amigão do peito, chamando até Ana de "A". Gente que força é o que mais tem nesse mundo empresarial. Mas quando duas pessoas convivem bastante tempo juntas, a ponto até de cultivar algo que fora das paredes corporativas poderia ser chamado de amizade, é natural que esse tipo de tratamento seja usado.

Agora, o tratamento superformal, de senhor, doutor (exceto no caso de ele ser um doutor mesmo, desses com estetoscópio enrolado no pescoço), mestre ou algo que o valha antes do nome da pessoa (não no meio de uma frase, substituindo o "você") é coisa de puxa-saco, e nós não queremos perder tempo com essas pessoas.

Há também os apelidos, que, apesar de acontecerem em contingente menor no reino da tristeza mercado de trabalho, também marcam presença, e às vezes pra destruir: ser chamado por apelido (que costuma ser algo jocoso) é sinal de perda de respeito. Já falei que reputação é tudo na vida corporativa, e não há no mundo alguém que leve a sério os conselhos de alguém conhecido como Paçoca ou, sei lá, Juvenal Antena. E você sabe a física por trás dos apelidos (quanto mais se luta contra, mais eles se fortalecem), então quando chegar nesse ponto o melhor mesmo é trocar de empresa. E se o seu problema for semelhança com algum personagem conhecido, considere uma plástica.

3 comentários:

Antonio Brito disse...

Por isso que os portugueses te chamam de "Ó Pá".

Lembrei-me da música: "A Augusta com os seus hábitos caros" ... "Angélica com seus apartamentos espaçosos" ... "E entre a Angélica e a Augusta / fica a Consolação".

Quem é a figura? O Itamar Assumpção?

Abraços!

Thiago Padula disse...

O figura da música? É o Tom Zé =)

Eu já fui Pad e Ula, Pá é mais raro.

Marcela Barreto disse...

Você continua escrevendo em alguma outra plataforma? Linkedin? Gosto muito dos seus textos! Vc poderia lançar um livro de crônicas.