terça-feira, 20 de julho de 2010

O cliente

Há muitos inimigos nesse mundo profissional (além do próprio trabalho em si): o prazo, a verba, a situação econômica do país, o clima, o equipamento, os impostos, o gerente, o funcionário, etc, etc, etc. Mas se tem um negócio que todos devem concordar é que o grande inimigo do trabalhador é o cliente.

O negócio do cliente é que você precisa dele. Você o odeia, mas sem ele haveria falência, miséria, alcoolismo. Não dá pra se desvencilhar. E o que irrita é que aquela velha máxima do comércio, "o cliente sempre tem razão", vem sempre puxar pelo pé. Sabe gente que entra numa discussão e acha que sempre tá certa e não dá o braço a torcer nem para de te encher o saco? O cliente sempre ganha essa discussão, esteja ele certo ou não. O mundo corporativo é o único em que não há justiça: a razão não depende de fatos ou argumentos, depende de que lado do balcão você está.

É pra odiar mesmo um filho da puta desse, né? Mas o grande problema, na verdade, é mais filosófico: há um cliente em cada um de nós.

Cliente não é profissão, nem vocação, nem patente. Todo mundo é cliente. Se eu vou visitar uma das empresas que contratam os serviços da minha firma ("minha" é ótimo) de chinelo e camisa da Copa de 90, rola uma hecatombe. Mas se eu entrar numa loja vestido do mesmo jeito, o atendente todo emperiquitado e perfumado vai até tirar a própria roupa e me emprestar. E ai dele se me olhar torto, porque eu ameaço comprar aquela porra daquela loja inteira e o por no olho da rua. Claro que eu não tenho dinheiro, mas ele é obrigado a acreditar que sim, vide assinatura na carteira de trabalho, aquele contrato com o diabo em forma de livrinho de salmos.

Talvez nossa grande implicância com o cliente venha do fato de não nos aceitarmos assim. É como a mocinha virgem e chata do filme que fica espezinhando o herói, quando todo mundo sabe que o que ela quer é montar na garupa do cavalo branco dele e ir viver num lindo castelo cheio de criados educados e devotados. A verdade é dura, mas temos que aceitá-la: nós somos a mocinha virgem.

Pra manter a paráfrase com filmes ruins, nessa hora um sábio mestre diria que "o nosso maior inimigo está aqui", e apontaria o dedo na direção do coração. Ele que vá a puta que o pariu, eu queria mesmo era ganhar na Mega Sena.

sábado, 17 de julho de 2010

Política de boas vindas



Ah, o sonho profissional. Como a gente se prepara pra ele. Estuda onze anos numa escola que te prepara não pra vida, mas pro vestibular; aí passa no vestibular e estuda mais uma pancada de anos pra outro negócio que também não te prepara pra vida, mas pro mercado de trabalho. Ah, o sonho profissional. Como a gente se prepara pra ele. Quanta coisa a gente sacrifica. Ah.

Então a gente começa a trabalhar e percebe que as coisas não são tão legais. O salário só dá pra pagar as contas, a grande empresa que ia ser um grande aprendizado só nos põe pra fazer trabalho de corno, o Twitter é bloqueado, o puxa-saco sempre ascende mais rápido, mesmo sendo muito menos capacitado. O sonho profissional, percebemos, é uma antítese: se é profissional, só pode ser um pesadelo.

O mercado de trabalho é muito mais que competência técnica, currículo e dedicação. É política de empresa, burocracia, chefe burro, colega cuzão, nepotismo, horas-extras, salário atrasado, salário baixo, estágio, função que não é o que você estudou nem o que você quer fazer. Trabalhar é legal, ganhar dinheiro é muito bom, mas a vida corporativa, com todos os seus detalhes irrelevantes e complicações desnecessárias, é uma bosta.

Eu sou publicitário de formação, designer de carteira de trabalho e macaco-robô de função. Trabalho num lugar legal, ganho mais do que mereço, e provavelmente estarei fechando várias portas com esse blog - eu sou daqueles que perde a carreira, mas não perde a piada -, mas a vida corporativa, e todas as circunstâncias e particularidades que a envolvem, precisa ser tratada com mais cinismo de vez em quando.

E eu quero a ajuda de vocês, gente que cedo madruga pra poder comprar o leite das quiança: sugiram assuntos, deem depoimentos, façam suas indagações sobre os grandes mistérios da vida profissional; vamos juntos despedaçar essa complexa estrutura feita de Outlooks e vales-refeição, mas com todo respeito. Já que não dá pra fugir do trabalho, é melhor rir dele que odiá-lo.