quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O amor e o trabalho

Ah, o amor. Esse sentimento sublime, que deixa a gente besta, que faz o mundo passar em câmera lenta, que instala uma bomba-relógio dentro da gente que, cedo ou tarde, vai explodir e nos deixar na merda. Ah, o amor.

É óbvio, é claro, é evidente que a vida corporativa não é invulnerável aos encantos macabros desse sentimento cor de rosa. Todo mundo está sujeito a se apaixonar em qualquer lugar, então é natural que essa probabilidade aumente onde você passa a maior parte do seu dia.

"Onde se ganha o pão, não se come a carne", já diz o ditado da frigidez corporativa. Tem pessoas que, por precaução (e uma boa dose de razão), preferem manter distância de enlaces amorosos, sérios ou casuais, com colegas de empresa. Tem empresas que, por precaução (e nenhuma razão aqui), proíbem (ou ao menos controlam) relacionamentos entre membros do quadro de funcionários.

Essa última situação é o mais próximo que podemos ter na modernidade dos tais romances proibidos, visto que o trabalho ocupou o lugar na vida das pessoas de instituições falidas - mas outrora poderosas - como a família e a religião. Conheço pessoas que mantem um namoro mesmo trabalhando num lugar que restringe esse tipo de coisa, o que, por falta de atrativo literário melhor, é um bom combustível pra paixão.

Tem também o lance do(a) namorado(a) corporativo(a), que é um simulacro dentro dos limites da moralidade profissional de um relacionamento amoroso: rola um afeto, um flerte, uma preocupação mútua das nove às seis, mas não rola linguinha nem pintinho na perereca. Resumindo, é deprimente.

O maior problema de interesses amorosos/sexuais no trabalho é que isso traz um elemento passional dispensável pra um lugar que pede que sejamos frios e racionais o tempo todo. Depois que as coisas acontecem e, consequentemente, explodem, fica um climão chato - isso quando não interfere no próprio relacionamento profissional das partes envolvidas, o que resulta em salários atrasados "por descuido", em relatórios que não chegam na mão de quem deve, em gente que faz trabalhos idiotas surreais por ser alvo de vingança. Isso sem contar quando há pressão hierárquica pra que pessoas façam coisas ("coisas") em troca de manutenção no emprego.

Não há dúvidas de que o amor no trabalho é um terreno acidentado e traiçoeiro, mas não deixa de ser necessário, visto que é uma das poucas coisas "relevantes" da vida que pode acontecer dentro de um escritório. Mas é tão regrado, tão limitado e tão cheio de peculiaridades que acaba parecendo mais uma versão industrializada da coisa do que ela própria. Corações em três vias, sabe?

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Reunião

Um dos clichês mais comuns do cinema sobre as pessoas que tem cargos importantes numa empresa é aquele que mostra o personagem numa sala de reunião imensa, com vários outros engravatados, normalmente alguns japoneses. Mas, a gente sabe, isso não é exclusividade de chefia.

Tem gente que adora reunião. Acha que é um bom jeito de perder um tempão do dia trocando uma ideia com outras pessoas - porque trabalho é um troço muito solitário, né. E também tem gente que detesta, porque reuniões sempre - deixe-me por um pouco mais de ênfase nisso: SEMPRE - descambam pra longe do assunto principal.

Eu entendo que permanecer focado sozinho já é um tanto difícil, e isso piora quando se tem um monte de gente atrapalhando ao redor. Mas é inacreditável o fato de que nunca na história uma reunião tenha ido do começo ao fim sem desviar pra coisas que não tem nada a ver. Elas começam falando sobre atitudes emergenciais pra corrigir a grande cagada feita na semana passada e lá no meio já tem gente dando dicas de bons lugares pra viajar perto de São Paulo. Isso quando não vão pra outros assuntos do próprio trabalho, mas que não tem nada a ver com o assunto em pauta.

Ao mesmo tempo em que reuniões podem ser internas, com uma equipe hierarquicamente desprivilegiada - o que tende a deixar as coisas mais relaxadas e agradáveis -, pode ser também com um cliente ou a diretoria da sua empresa. Aí, negão, o bicho pega. Porque você tem que se vestir de jeito tal, sentar de jeito tal, falar de jeito tal; se for um almoço de negócios, tem que pedir um prato legal, nada de ovo com guaraná. Reuniões desse tipo são como um grande flerte, com a (cruel) desvantagem de que não há nenhuma chance de alguém comer alguém no final.

Há também as teleconferências (ou até vídeo conferências, para os punheteiros tecnológicos), que eliminam boa parte do estresse da apresentação visual (e tem o lado bom de você poder fazer careta enquanto a voz do outro lado se pronuncia - não tem preço) e do deslocamento, mas são estranhas pra burro. É raro você ver alguém que sabe se comportar direito numa reunião dessas: sempre tem um curvado e gritando para o telefone. Muito profissional, muito elegante, muito bacana.

Reuniões podem ser um bom jeito de integrar uma equipe, mas quando acontecem em grande quantidade viram um pé no saco. Eu sei, é chique atender o telefone e dizer "desculpe, estou no meio de uma reunião". Uau, ele está no meio de uma reunião! Mas tem gente que assiste filme demais e acha que se passar o dia inteiro com os cotovelos numa mesa e falando abobrinha pra outras pessoas que deveriam estar trabalhando ele vai automaticamente ser importante e relevante para a corporação.

Deixa eu explicar uma negocinho: reunião demais e férias de menos não fazem de ninguém um trabalhador melhor. Pode parar de se gabar, queridão ;)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Novo na firma

Emprego novo é sempre uma coisa excitante e divertida: nova empresa, novos desafios, novos coleguinhas, novo café. Tudo é mágico e pronto pra ser descoberto: qual o melhor caminho pra ir para o trabalho? Qual o humor do novo chefe? Qual a carga de trabalho que está à espera? O Orkut é bloqueado?

Porém, há um turbulento intervalo entre o deslumbramento precoce (esse do parágrafo acima) e a óbvia constatação de que tudo é a mesma merda: é aquele momento que vai da hora em que você pisa na empresa pela primeira vez até a hora em que você se adapta completamente ao novo ambiente.

Primeiro tem o lance de você ser apresentado aos novos companheiros. Estou há pouco mais de três anos na minha empresa e vejo pessoas novas chegando toda semana. De um lado, o estreante está lá, todo duro, vestido de maneira pouco adequada (formal demais) pro lugar, pensando como deve cumprimentar as pessoas - um aceno de longe, um "corpo a corpo"? E as mulheres, aperto de mão ou beijinho no rosto? - e imaginando o que essas outras pessoas estão pensando ao olhar pra ele. Não, amigo, essas outras pessoas não estão pensando "puxa, tomara que ele venha para agregar para a empresa! *soco pendular paralelo ao corpo*". Elas estão rindo do seu desconforto e pensando em quanto tempo você vai durar até ser totalmente esmagado. Essa é uma batalha que você já começa perdendo, por uma larga desvantagem.

E tem a hora em que o trabalho começa pra valer. As pessoas que estão trabalhando com você não leram seu currículo, não participaram da sua entrevista. Elas não sabem o que você sabe, o que você não sabe, o que você gosta e o que você quer aprender. Elas simplesmente vão te enfiar informação e trabalho goela abaixo e esperar que isso esteja feito no mesmo prazo (ou até menos!) que uma pessoa totalmente adaptada ao lugar faria.

Esse período de adaptação é difícil, e há várias maneiras de lidar com ele. Tem aqueles que forçam a barra, que já querem ser amigões desde o começo. Riem alto, tocam nas pessoas, contam histórias, batem no peito e gritam "deixa que eu faço!". Não seja um desses, eu os odeio. Tem os tímidos, que ficam recolhidos e esperando que o assunto alguma hora aponte pra ele - nunca pedem o jogo, nunca -, e que bem, bem lentamente vão entrando no ritmo - toda batalha é um jogo de paciência, afinal de contas. E tem os meio termo, gente nem tão expansiva e nem tão retraída, que tende a conseguir um melhor equilíbrio entre tempo de adaptação e aceitação popular.

Tem também outras coisas que podem ferrar nesse período: se o seu salário é maior que o dos outros (e isso de alguma maneira não fica tão sigiloso quanto deveria), se seu cargo é maior que o dos outros, se você é gostosa (há uma divisão aí), ou qualquer outra característica que você tenha que seja potencial alvo de inveja alheia.

Não há fórmula mágica para essa parte embaraçosa e obrigatória na carreira, e o negócio acaba sendo mesmo seguir a voz do seu coração. De maneira metafórica, evidentemente, porque todo mundo vai te odiar se você tiver um coração que fala de verdade.

Acabei de ter uma ideia, com licença.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Ao toilete

Mercado de trabalho é quase tudo sobre aparência. Vestir-se bem, portar-se bem, falar bem, todos atributos de bons profissionais. Mas não é possível manter intacta essa bonequinha de cera porque, rá!, a natureza ainda é prioridade.

E é na hora que ela chama e a pessoa precisa fazer uma visita ao banheiro que a gente descobre quem é quem. Já vi gente que acha que é chefe passar vinte minutos lá e sair toda descabelada, já vi gente que é chefe de verdade matar ratos lá dentro (só isso explica o cheiro).

Infelizmente, isso é coisa que afeta todo mundo. O sol nasce pra todos, a privada também. Porém, de algum modo que a ciência não explica, o vaso do trabalho costuma ser mais traiçoeiro que o normal. A descarga, em primeiro lugar, nunca é potente o bastante: a água vai, mas não leva todo mundo. O assento também é esquisito - pode reparar, a privada é o único objeto da casa que molda a sua anatomia, e sob essa ótica, complicado esperar que sua bunda se adapte tranquilamente a qualquer uma. Tem também um probleminha chato que rola com os homens: você chega, mija, e quando vê, tem um pentelho na borda. Aí você não sabe se ele é seu ou de alguém que usou antes, então fica com medo de por a mão, e no fim do dia a privada tá parecendo uma peruca.

Fora o seu próprio desconforto ao não conseguir controlar essas coisas - tipo estourar o deadline porque te deu uma vontade louca de cagar a 10 minutos de entregar a parada -, tem também o lance da sua imagem perante os colegas. O banheiro te deixa vulnerável, não importa quem você é e que cargo ocupa na empresa. Em geral dá pra fazer tudo com um certa discrição, mas às vezes uma mijadinha no chão, um cheirão horroroso ou uma esquecida de lavar a mão pode acabar com uma reputação - talvez até uma carreira!

Aparentemente, nesse assunto as histórias são mais conhecidas que os autores - tente puxar esse papo com o pessoal da sua empresa e vai ouvir centenas de casos, mas poucos nomes. Isso é bom, muito bom. Mas, mesmo sendo um problema com baixa taxa de mortalidade, ainda é importante manter a guarda levantada e os olhos abertos. A vida corporativa não é uma "bosta" por acaso.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Vocabulário profissional

"Quem não se comunica, se trumbica", já dizia aquele velho chato do caralho, com alguma razão - não toda razão porque eu me recuso a aceitar que "trumbica" seja uma palavra. Evidentemente a coisa vale, e até mais forte, no mundo corporativo.

Comunicação empresarial é um negócio muito amplo, então vamos por partes: falemos, hoje, de palavras e expressões que não vingaram muito na vida "real", mas encontraram seu nicho do sucesso nos escritórios desse país. O mundo corporativo é para as palavras sem graça o que Las Vegas é para os imitadores do Elvis.

Validar, por default, asap, alinhar, prospecção, entrar em contato, fortemente,  holerite, implantação, atenciosamente, colaborador, FYI, recurso (como um sinônimo pra gente), expertise, excelência, viral (sem falar sobre vírus), procrastinação, prezado, dissídio, proatividade, junior (sem ser filho de nenhum homônimo), senior, meta, consolidação, produtividade, retorno/feedback, não conformidade, familiarizado, abrir um chamado (leia esse termo ao pé da letra e me explica que diabo isso quer dizer), resiliência, vestir a camisa, alocação, bater ponto, budget, brainstorm, fee (isso nem é palavra, é um peido que falhou!), estourar o orçamento, follow-up, declínio (justiça seja feita, essa também é usada nos livros de história), comissão, deadline, robusto, dia da marmota, happy hour, ficou bom mas...

Não é que essas palavras e expressões não possam ser usadas fora do trabalho - normalmente isso acaba acontecendo, num daqueles casos típicos de vazamento entre os mundos -, mas fica estranho, fora de lugar. Eu mesmo já terminei uma amizade porque o cara veio falar de "excelência" - eu disse que é porque ele ficava olhando pra minha mulher, mas convenhamos, quem quer manter laços com alguém que fala um negócio desse num ambiente casual?

O ambiente de trabalho é um mundo todo a parte, e, naturalmente, tem seu próprio vocabulário, assim como sua própria gramática, assunto para outro post. Adaptar-se a essa linguagem demonstra profissionalismo (não significa profissionalismo, só demonstra), mais uma dessas coisas importantes pra você crescer na carreira. Então vamos aprender todas essas (e as outras, que vocês colocarem nos comentários) e encher o cu de dinheiro?


E aquele muito obrigado aos leitores Clarissa, Dani, Diego, João, Linei e Sodré pela ajuda com o texto.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Uniforme

Uma das coisas mais características da vida profissional é o uso de uniforme. É aquele velho lema do "vestir a camisa da empresa" sendo levado um pouco a sério demais.

Não preciso te explicar o que é uniforme, certo? Há empresas que optam pelo uso mais tradicional, que é aquele em que todos os funcionários usam roupinhas iguaizinhas (ou, se não todos usam a mesma, ao menos separados por função/cargo/departamento); mas há também aquele uniforme disfarçado, que não tem logo da companhia ou tecido predeterminado, mas que não deixa de ser um indicador do tipo que coisa que você faz. Eu, por exemplo, sou designer, então uso tênis sujo, barba grande, camiseta (lisa ou de banda) e calça jeans. Se você entrar na minha sala não verá todos vestidos iguais a mim, mas verá uma certa "linha de raciocínio" vestuária que se replica em cada pessoa.

Mas o tipo de uniforme muquiado mais comum ainda é a roupa social. Ah, a roupa social, essa desgraça. Camisa, calça, sapato, alguns gravata, alguns terno, crachazinho pendurado no pescoço (faça as devidas adaptações para mulheres). Veja uma pessoa andando assim na rua durante o dia e saberás que ela está trabalhando (ou indo a uma entrevista, no mínimo).

O grande mal da roupa social é que ela é quente, desconfortável, e, gosto pessoal, feia. Vamos lá, ninguém vai trabalhar tão feliz que precise desse tipo de castigo pra voltar à amargura. Alguém, pelamordedeus, me explica pra que serve a gravata? É realmente necessário que uma pessoa que já passa a maior parte do seu dia longe da casa e da família, sacolejando em transportes coletivos lotados e/ou trânsito insuportável em um PAÍS TROPICAL ainda precise usar esse tipo de vestimenta em nome de uma estética que foi estabelecida, sei lá, na revolução industrial?

(eu sei que não foi na revolução industrial, controle-se e tire o mouse de cima da caixinha de comentários)

Parece óbvio, mas talvez alguns ainda não tenham pensado nisso: a palavra "uniforme" não tem nada a ver com roupa ou aparência. Tem a ver com criar um padrão de semelhança entre quaisquer que forem as partes desse todo. Não vamos aqui ser anárquicos ou ficar falando de músicas do Pink Floyd, porque disso todo mundo sabe desde que nasceu. O uniforme é, desde a escola (pare com a música do Pink Floyd!), uma maneira de nos vestir de insatisfação, de deixar claro para o mundo que naquele momento preferíamos estar fazendo outra coisa (mesmo que essa outra coisa seja vestir um outro uniforme - de futebol, por exemplo).

Se pensar bem, o uniforme é nossa jaulinha com a placa "cuidado - trabalhador bravo". Não é tão ruim, afinal =)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Nossa missão

Eu tenho quase certeza que não sou o primeiro a propor esse exercício, mas prefiro o efeito à originalidade: procure a missão da empresa que você trabalha, e a leia. Então troque com a missão da empresa do amiguinho sentado à sua direita. Continue fazendo isso até pegar a da sua empregadora de volta. Depois disso, desafio: tente me provar que todas não são A MESMA MERDA.

Em primeiro lugar, chamar um negócio tipo "atender bem nossos clientes, ser bróder dos parceiro, servir à comunidade, etc" de "missão" já beira a sacanagem. Missão é roubar artefatos místicos, salvar a filha do presidente, encontrar a armadura de ouro; fazer bem o seu trabalho é obrigação. Aliás, "Nossa Obrigação" é um nome que cabe bem melhor, até porque falhar na missão faz parte da vida, falhar na obrigação é erro passível de destruição completa. Mas isso é no meu mundo, longa história.

É uma pena que esse lance de missão seja uma grande papagaiada, porque se levassem isso a sério a coisa poderia ser bem mais legal. E já que estamos na pegada da escolinha, outro exercício: baseado em tudo que você vê, sabe e julga, escreva aí nos comentários (não precisa nem se identificar) a missão "real" da sua empresa. Vou dar o exemplo desse blog:

Nossa missão (versão boba e feia)
Proporcionar aos leitores desse diário virtual textos sobre a realidade e o cotidiano do mundo corporativo, com leveza e bom humor, servindo sempre ao objetivo de divertir e encantar.

Nossa missão (botando pra fuder)
Analisar, esmiuçar, detalhar, destruir, esmigalhar, humilhar e dar um tapinha na bochecha das características mais marcantes e/ou desprezíveis da vida corporativa. Servir de válvula de escape para cada trabalhador frustrado e maltratado por essa grande máquina sem alma e sem rosto que despedaça nosso orgulho, fratura nossas famílias e mata nossa vontade de viver, mas que a gente adora e não consegue viver sem. E, como exemplificado por essa última oração, expressar tudo de maneira sarcástica, rancorosa e engraçadinha.

E, se possível, colocar um dinheirinho no bolso desse pobre redator que está naufragando sua própria carreira para que você aí do outro lado possa dar suas risadas.

Viu? É fácil. Agora é com você, não me deixe só.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Deixa pra depois

Procrastinação (ou work simulation, como preferir) é um negócio muito legal e simpático que subverte a velha lição de vida: deixar sempre pra amanhã o que você pode (e, normalmente, deveria) fazer hoje.

Estatísticas comprovam que 14 em cada 10 trabalhadores fazem ou já fizeram uso de técnicas de procrastinação. Falando assim parece algo muito complexo, mas na verdade é só ficar o dia inteiro no MSN ou dando F5 no site do Planeta Bizarro e pronto!, você é um de nós. Digo, deles.

Há, claro, os profissionais, gente que não só está enrolando como quer parecer que está trabalhando. As táticas são diversas, desde abrir o email da empresa no fundo e manter a janela do Lancenet bem reduzida abaixo até desenvolver toda uma linguagem codificada pra conversar com os amigos no telefone fingindo estar falando com um cliente. Perceba o trabalho que dá só pra evitar o trabalho.

O problema da procrastinação é, talvez, geracional: gente da minha idade não consegue ficar olhando pra uma tela de computador e fazer uma coisa só. E uma vez que você dá um ctrl + tab pra ver o que tá rolando no Twitter, fudeu: enrolar é tão mais legal que trabalhar que aquilo vai te prender por horas. E quando você voltar ao que estava fazendo antes já será tarde demais.

Há uma corrente de pensamento que diz que não existe nada menos interessante que o trabalho. Não sei se concordo, mas é difícil ir contra quando se vê o número de pessoas que assistiram 2 girls 1 cup no escritório. Como é que algo pode ser tão chato que alguém prefira ver duas mulheres comendo merda?

Tem gente, inclusive, que já está tão habituada ao WS que não consegue mais fazer nenhuma tarefa sem antes postergá-la nem que seja por cinco minutos. Veja eu, por exemplo: esse texto foi escrito ontem à tarde, digitado à noite e publicado só hoje. E eu estou de férias!

Procrastinar é outra coisa que você, jovem trabalhador, deve aprender. Essas coisas não estão nos valores da empresa, nas aulas da faculdade ou nos livros do Max Gehringer, mas fique tranquilo que estou aqui para ajudá-lo.

Daqui a pouco.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A culpa é minha, eu ponho em quem eu quiser

Apesar do crescente número de pessoas que trabalham remotamente ou por conta, não dá pra negar que o trabalho é algo primordialmente coletivo. Quase tudo depende de uma looonga cadeia de pessoas, procedimentos, cafés e formulários em três vias. E, já que somos humanos, é natural que em alguma hora no meio desse percurso aconteça alguma cagada. Oh, e agora?

Agora é a hora do tiroteio, mermão. Pode haver centenas de pessoas aglomeradas num pequeno espaço, mas é só alguém gritar que houve um erro e procurar o responsável que magicamente vai se abrir um corredor no meio, com todo mundo rapidamente tirando seus respectivos da reta (há quem diga que Moisés atravessou o Mar Vermelho justamente fazendo com que cada gota d'água não quisesse admitir a própria culpa pelo que quer que seja - nunca saberemos). Se você é um experimentado frequentador do planeta corporativo deve saber que um dos itens básicos de sobrevivência nessa Pandora de terno e gravata é justamente saber se esquivar da culpa. "Ah, eu deletei tudo, depois criei de novo de um jeito que eu achei bonito e legal e mandei pro cliente sem a aprovação de ninguém, mas porque eu fui corrigir um erro de digitação do estagiário e deu pau em tudo. Não é minha culpa".

O estagiário, separemos um parágrafo pra ele, é um personagem importante dessa história. Há uma lei não escrita, você deve saber, que diz que o primeiro suspeito de cagada é sempre esse pobre estudante cheio de espinhas. Repara: a cada vez que algum erro abominável vem ao conhecimento popular (tem um exemplo recente), brotam comentários maldosos do tipo "ih, um estagiário vai perder o emprego". É porque o estagiário é burro ou incompetente? Não, é porque quem pode mais, chora menos.

O mercado de trabalho é bastante competitivo, e mesmo que você chame todos os seus colegas de amigos (erro hipócrita básico), nunca vai querer admitir que é menos capaz que eles. Há quem diga que é bonito assumir a culpa, que é coisa de gente com caráter e tal, mas isso é bobagem: aceitar que você errou não te faz melhor, só faz com que os outros (os seus "amigos") parem de te acusar pelas costas. Nada contra, é até legal arrancar essa raspa de diversão maquiavélica alheia, mas certamente não vai te ajudar na carreira.

Para continuar ascendendo, a melhor opção ainda é fingir que não é com você e espantar a culpa pra qualquer lado o mais rápido possível. Ou vocês acham que o nome do Coelho Ricochete não tem nada a ver com o fato de ele ter chegado a xerife? Por favor.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Corno job

Há várias expressões pra definir aquele tipo de trampo que não exige muito das capacidades intelectuais do executor, mas as que eu mais ouvi foram corno job e monkey job - ou trabalho de corno e trabalho de macaco, dependendo da presença ou não do complexo de inferioridade internacional na sua empresa. A minha tem, então vou com os termos em inglês.

Eu não gosto de monkey job porque acho que é subestimar demais a inteligência do bichinho. É achar que ele só consegue fazer esse tipo de trabalho porque é muito imbecil. Estão errados: macacos são capazes de cagar na própria mão e tacar na cara do bróder do outro lado que se acha inteligente mas tá maravilhado vendo um bicho preso numa gaiola. Opor-se ao establishment também é sinal de inteligência.

E o corno job, bem... ele se aplica. Não que faça muito sentido prático se pensarmos no aspecto intelectual da coisa, mas se encaixa perfeitamente quando vemos sob o prisma do constrangimento: ser chifrado é basicamente a segunda maior humilhação que uma pessoa pode sofrer (a primeira é horrível demais pra ser dita num blog sofisticado como esse), e é por aí que funciona com o trabalho de corno.

Você se prepara bastante pra fazer um bom trabalho. Estuda, faz faculdade, faz cursos, conversa com profissionais da área, lê sobre todos os assuntos relacionados na internet e etc. E quando você está lá e quer dizer pra todos que está fazendo um baita trabalho legal, que não só vai aumentar o faturamento da sua empresa como por seu nome no olimpo dos especialistas naquele ramo de negócio, na verdade você está colorindo células no Excel ou copiando e colando milhares de arquivos para o novo ambiente virtual de compartilhamento de informações e toda essa merda.

Todo mundo quer fazer a diferença. Mas há muito mais trabalho besta que revolucionário a fazer, e não há outra saída a não ser fazer toda essa bobagem sem sentido que só precisa de um otário e um piloto automático. É quando você percebe que não é tão importante, que não é o cara que vai fazer a empresa respirar aliviada por contar com tamanha expertise. A vida corporativa é uma infinita sucessão de bigornas esmagando o orgulho do trabalhador, e não adianta chorar por isso.

Você pode, claro, se opor e jogar bosta na cara do patrão - no sentido figurado, pelo amor de deus. Arriscar seu emprego por aquela coisa que alguns idealistas chamam de respeito próprio é uma atitude apreciada por líderes empresariais. Mas lembre-se que, depois disso, vai precisar enfrentar a própria mediocridade e fazer um trabalho acima da média pra fugir do corno job, ou vai ficar muito, muito chato.

Melhor não, né?